Américo Pereira


A arte de conhecer os segredos do vinho


Américo Pereira nasce em Caracas, na Venezuela. Vem cedo para a 
Madeira. Tira um curso de Gestão. Mais tarde entra na escola de hotelaria onde tira o curso de Mesa e Vinhos. Muitos outros se seguiram.
É um profundo conhecedor dos segredos do vinho, seja do Madeira ou de muitos outros que se produz por esse país fora. São conhecimentos que aplicou durante muitos anos na loja Diogo’s e em muitas iniciativas, como cursos e provas vínicas.

por: Paulo Camacho

Américo Pereira nasce na Venezuela, em Caracas, em 1958. É filho de madeirenses. Cedo vem para a Madeira, em 1964, juntamente com os pais, que se estabelecem na ilha.
Completa toda a escolaridade na Região. Faz o Curso Geral de Administração e Comércio na então Escola Industrial e Comercial do Funchal, hoje Escola Secundária de Francisco Franco.
A dado momento dá com uma exigência do país de onde ainda é natural, na altura: a Venezuela. Tem de regressar para cumprir o serviço militar. Tem apenas nacionalidade venezuelana. Hoje é somente a portuguesa.
A única saída é continuar a estudar e ter bom aproveitamento.
A acabar o curso da escola, começa a pensar numa saída para não ter de ir para a tropa.

O primeiro curso

Não tem possibilidades de seguir os estudos fora da Madeira. Por isso, procura inscrever-se no que há na ilha para continuar a estudar.
A Agronomia desejada fica pelo caminho, uma área de que muito gosta pelo facto de crescer com os terrenos dos pais no Funchal e no Porto Moniz. E sempre ajuda o pai nas lides que culminam com o vinho, um mundo que o fascina.
Mas na Madeira não encontra forma de fazer esse curso.
A saída surge com a Escola Hoteleira. Há um curso de Mesa e Vinhos e outro de Cozinha. O mais parecido com o seu desejo é o de Mesa e Vinhos. É uma forma de passar o tempo e não voltar para a Venezuela, que nunca mais conhece depois de a ter deixado no início da década de 60.
Inicia o curso. Dá-se muito bem. A meio da formação, a direção da escola convida-o para fazer parte do quadro de formadores da unidade.
É dito na altura que, depois de o terminar, vai fazer um estágio na Suíça.
Mas acaba por não poder ir, por ser venezuelano. Tem de o fazer em Portugal, no Porto.

Curso de Escanção

Na Escola Hoteleira, no Funchal, faz igualmente o curso de Escanção. Está ligado ao mundo dos vinhos, que sempre o apaixona.
Durante esse tempo faz muitas perguntas. Por vezes, tem dificuldade em obter respostas.
Não há muita leitura sobre os vinhos. Toda a informação que consegue devora e lê. Nas próprias garrafas de vinho não existem contrarrótulos. É difícil saber o nome das castas.

Estágio no Porto

Mais tarde, na Escola de Hotelaria do Porto faz o estágio. Durante esse tempo inicia um aperfeiçoamento do curso de Escanção.
Tem a possibilidade de visitar e fazer estágios em adegas de vinhos do Porto.
É um período muito enriquecedor, que aumenta os conhecimentos e mostra segredos dos vinhos.
Regressa à Madeira. Fica a trabalhar na Escola de Hotelaria e Turismo durante algum tempo. Sente prazer em trabalhar na escola.

Chefe de vinhos

Na segunda semana é chamado pelo diretor, Jorge Caldeira, a quem chama “pai hoteleiro”. É colocado como chefe de vinhos. Tem 19 anos.
O seu trabalho é preparar, de manhã, o menu do dia. É feita tradução para várias línguas, concretamente francês, inglês e alemão, por vezes, italiano.
Américo Pereira está no antigo hotel escola Avenida, junto ao Ribeiro Seco, onde, na altura, funciona a escola prática de hotelaria e onde continuam a ficar hóspedes, de verdade. A maior parte são ingleses. Hoje continua o ensino no edifício, mas de música. É o Conservatório de Música da Madeira.
Tem de saber a composição integral das refeições servidas para não deixar qualquer cliente sem resposta.
Além da preparação do menu é tida uma especial preocupação com os vinhos.
É preciso “encaixá-los” com os pratos. A selecção de vinhos não é grande. Por isso, há que adaptar o que existe em consonância com os pratos propostos.
E, mais uma vez, pelo facto de ter nascido na Venezuela, não pode entrar nos quadros da escola. Já há muitos estrangeiros.
Assim, apesar de gostar muito do que faz, vê-se forçado a procurar outra saída.
Até porque diz estar a ganhar mal.

Campeão no Martini

Vai trabalhar no Joe’s Bar. Começa no “cocktail bar”, completamente diferente do que existe hoje em dia. É um espaço com grande movimentação de “cocktails” e muito agradável.
É campeão da Madeira da “Martini Paisa”, um concurso feito para jovens barmen, com a idade máxima de 22 anos.
É constituído por 40 perguntas de cultura geral e saber perfeitamente a composição de “cocktails” preparados com Martini, que são centenas.
Américo Pereira é vencedor do concurso, no Funchal, juntamente com um colega do hoje Pestana Carlton Park, José Manuel, que seria chefe de bares do Copacabana. Vão a Lisboa à fase final.
Questões relacionadas com o facto de serem madeirenses terão sido decisivas para ficarem em segundo lugar, a umas milésimas de representar Portugal na final em Itália. Fica com uma certa tristeza.

A garrafeira “O Barril”

Ao fim de alguns anos, casa. Está cansado da noite. É então que o empresário Danilo Reis, antigo professor seu na escola hoteleira, o convida para abrir a primeira garrafeira de vinhos no Funchal. Na altura existe a Madeira Wine Company, que vende vinhos Madeira e poucos nacionais.
Abre a garrafeira “O Barril”, situada na Rua de São Francisco, junto ao Jardim Municipal, que entretanto já fechou. A loja abre em 1983.
Chegou a ser considerada pelo “Expresso”, na coluna Vinhos, como uma das melhores garrafeiras em Portugal.
Américo Pereira é convidado muitas vezes para organizar provas de vinho Madeira, a nível nacional.
Começa a organizar jantares vínicos para várias distribuidoras de vinho do continente na Madeira.
Forma um grupo de apreciadores que reúne com regularidade.

Entrada no Diogo’s

Em 1992 sai d’“O Barril”. Entra na Diogo’s uma loja de referência igualmente no mundo do vinho.
Dois anos depois faz um curso de provas de vinho do Instituto da Vinha e do Vinho, a convite da instituição.
As provas, os jantares vínicos e as degustações continuam.
Depois faz um outro curso de prova do Instituto do vinho do Porto, a convite do Ministério da Agricultura. Concorrem 500 participantes e só terminam 139. Américo Pereira é um deles.
O curso obriga a deslocações constantes ao continente. Mas consegue fazer o curso, com gosto.
Começa a fazer formação para o CELFF em 1996. Faz vários grupos de formação para hotéis e para outros que abrem.
A Diogo’s, que já deixou, e que absorvia muito do seu tempo, ligada aos vinhos Barbeito, também contou com o seu apoio a nível promocional.
Deixa a empresa e abre uma própria, a Enomania.
Américo Pereira está sempre na loja numa lufa-lufa.
Recolhe com insistência informação de vinhos via internet, telefone e através de outra documentação.
Muitos jornalistas vêm à Região conhecer os vinhos da Madeira.
Tem uma profissão que o obriga a uma contínua aprendizagem. Diz que não pode parar por completo. Há que ler, constantemente, toda a informação. Por isso, tem pouco tempo para dedicar à família. Mesmo em casa, não raras vezes está com o computador portátil a preparar fichas técnicas ou a pesquisar na internet.
A juntar à atividade, enquanto fez parte da Diogo's, havia ainda uma outra firma da empresa, que comercializava vinhos para hotéis e restaurantes.
Reconhece que a empresa estava sempre pronta a apoiá-los. Nesse sentido, durante o seu trabalho prestava apoio aos hotéis na preparação e na elaboração de cartas de vinhos, sobretudo na orientação, para que não apresentassem cartas desequilibradas em preços, regiões, paladares e qualidade de vinhos. Defende que não se pode fazer uma carta só com um nível de vinhos alto nem tão-pouco baixo.

Arte das massagens

Américo Pereira gosta de cinema e de fotografia. Durante alguns anos é massagista do União. Isto porque, além dos vinhos, tira um curso de fisioterapia. Lá trabalha durante 19 anos. Com os juniores, os juvenis e os iniciados, e também ajuda os seniores, algumas vezes.
Quando está no banco, durante os jogos, e não está a ser solicitado, faz igualmente fotografia. Vende os momentos captados para a película aos jogadores e mesmo a órgãos de comunicação social da Madeira e do continente, como “ABola”. Ainda hoje gosta de fazer fotografia.
Um outro “hobby” são os charutos. Gosta de saber tudo sobre as folhas de tabaco enroladas com precisão e saber, que, de certa forma, também estão ligados ao seu mundo do vinho.
Em 1994 desliga-se da componente desportiva, por manifesta falta de tempo.
Hoje só aplica o seu jeito e conhecimento terapêuticos com alguns familiares e amigos.
Trabalha, em média, cerca de 10 horas por dia. Em algumas iniciativas já conta com o apoio da filha, que também tem algum fascínio pelos vinhos.

Internet fundamental

Lê toda a informação que pode sobre os vinhos, quer as novidades quer as críticas.
Gosta de ler igualmente jornais e revistas. A primeira coisa que faz é, quando existem, ler os textos de vinho. O resto lê quando pode. Tudo porque gosta de estar permanentemente atualizado, não só para enriquecimento cultural e profissional próprio como também para a sua profissão.
Sente pena de não conseguir tirar um curso de Enologia, mais por causa de tempo.


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