Francisco Monteiro


Um açoriano na Madeira


Francisco Monteiro. Desde cedo que Francisco Monteiro desperta para o mundo do Turismo. A tropa interrompe a ida pretendida para Lausana.
É ferido em Angola e hospitalizado em Lisboa. Durante este período tira o curso.
Natural dos Açores, vem para a Madeira. Faleceu a 8 de maio de 2017.

 
Nasce nos Açores, quase nos finais da segunda guerra mundial. Fruto da intervenção norte-americana no conflito europeu, a ilha de Santa Maria, nos Açores, é escolhida como base avançada dos Estados Unidos da América, à entrada no “velho continente”. Com esse facto, a ilha conhece um incremento muito grande.
Por isso mesmo, Francisco Monteiro vive numa ilha mais aberta do que as restantes, devido à movimentação de pessoas por Santa Maria. Altos técnicos internacionais e nacionais convergem para a ilha.
O ensino também evolui e beneficia os jovens locais. Na altura, quando faz exames em São Miguel com os colegas, a grande maioria destaca-se devido à base formativa.

O gosto pelo Turismo

Francisco Monteiro estuda até ao quinto ano, actual nono, em Santa Maria. Os dois anos seguintes são feitos em São Miguel. Tudo porque, na altura, não são ministrados estes anos na pequena ilha mais a sul do arquipélago. Durante o sétimo ano, inscreve-se num curso de Turismo, em Lausana, na Suíça. Uma área de que sempre gostou. A ideia é seguir qualquer área ligada ao sector, apesar da grande dificuldade que sente em Línguas. Admite que o gosto se prende com o movimento aéreo crescente de Santa Maria. Durante muitos anos, grande parte dos aviões de longo curso aterra na ilha para reabastecer, antes de atravessarem o Atlântico.
Como resultado, tudo o que é moda e actualidade, o primeiro contacto com a Europa, passa por Santa Maria.
Mas, em 1964, é chamado a cumprir o serviço militar obrigatório. Os estudos ficam em “stand by”.

Ferido em Angola

Vai para o continente, para Mafra. Dali segue para a Escola de Cavalaria, em Santarém.
Não consegue escapar ao ultramar. Em 1965 segue para Angola. É ferido em combate no leste do território. Algum tempo depois é enviado para Lisboa, para ficar internado no Hospital Militar. Ali é sujeito a várias operações plásticas. Fica hospitalizado cerca de três anos. Aproveita o período de internamento para estudar.

O curso de Turismo

Inscreve-se no Instituto de Novas Profissões. Forma-se como técnico de Turismo, no segundo curso que se realiza em Portugal.
Aí conhece a primeira mulher, a mãe das suas duas filhas, madeirense.
Casa e vem viver para o Funchal. A esposa começa a trabalhar no Turismo. Em princípio, Francisco Monteiro, ou Chico Monteiro, como é mais conhecido, deveria dar aulas na Escola Hoteleira. Mas não se proporciona.

Delegado de propaganda

Começa a trabalha como delegado de propaganda médica, para a empresa Bial.
Depois, entra para o Banco Borges & Irmão, hoje plenamente integrado no BPI. Por ali fica oito a nove anos, sempre no departamento de estrangeiros.
Durante o período em que ali trabalha, acompanha grupos durante viagens ao continente e a Canárias.
Em 1975/1976 é representante de um operador turístico estrangeiro na Madeira. Acompanha os turistas na ilha. Concilia a actividade com o horário do banco.

O mundo do Turismo

Um dia, abre a agência de viagens Meliá no Funchal, juntamente com outras pessoas.
Passa a dedicar-se 100% ao turismo. Diz que é a partir dessa altura que se dá a grande revolução a nível do conceito de agências de viagens na Região. Nomeadamente revoluciona o conceito do “outgoing”.
Algum tempo depois deixa a Meliá. Cria a Intervisa, juntamente com Samurano Pina, que já o acompanhara na agência anterior, e Emílio Rodrigues, que actualmente é o dono da empresa, com um novo nome: Intertours.
É mais uma lufada de ar fresco. Surgem outras agências igualmente dinâmicas.
Depois da Intervisa, regressa à Meliá, para ajudar numa altura menos boa da agência.

Regresso aos Açores

Mais tarde, volta aos Açores. Vai para a madeirense João de Freitas Martins. Aplica-se a fundo. Mas depressa chega ao ponto de não encontrar concorrência. Sente essa falta. Entende que um agente de viagens se satisfaz com empresas congéneres no mercado porque o obriga a estar atento e procurar alternativas.
Pelo caminho alavanca o projecto da agência de viagens Pretória. Não obstante, acaba por se dar menos bem com a componente de administração. Gosta mais da vertente comercial.
Abraça, depois, as agências de viagens OTM, Savoy e Euromar.
Logo depois entra na Miltours, entretanto comprada pela Tui. Daí que hoje integre o World of Tui, o maior operador turístico europeu.

Projecto hoteleiro
Neste momento, tem um projecto hoteleiro para a sua terra natal.
Fica com a casa dos pais, de 10 quartos. A ideia é transformá-la numa casa de turismo de habitação.
Francisco Monteiro quer recriar o ambiente senhorial que ali viveu em família na juventude. Não faltará uma biblioteca e um ambiente que mostre valores de alguns seus familiares ligados ao mundo das artes.
A ideia é ter o projecto concluído entre 2004 e 2005.
Em princípio, irá chamar-se Casa dos Monteiros, nome de uma família tradicional da ilha.
Nessa altura, pretende estar seis meses a trabalhar nos Açores e ficar sempre ligado à actual profissão como consultor de viagens, que pode ser através da Internet e, em pararelo, nos contactos privilegiados com a sua rica lista de contactos.

O exemplo da Madeira

Ao longo da sua carreira acompanha muitos grupos ao estrangeiro. Lembra-se de um, de alunos da Madeira, que leva a Torremolinos. É um ano onde outros alunos, de outras origens, fazem distúrbios pela cidade. Francisco Monteiro consegue fazê-los sentirem-se diferentes e serem exemplares ao não enveredar pelo mesmo caminho.

Cliente satisfeito...

Durante a sua actividade orgulha-se de nunca dizer a um cliente que não há o que pretende. Entende que é preciso esgotar todas as alternativas para satisfazer o gosto e o desejo do cliente. Na prática, sublinha que um agente de viagens tem de ter vocação para o ser, ter um amor extraordinário pelo conhecimento do que vende e do Mundo.
No seu caso pessoal, diz que sempre procurou saber o máximo para poder estar à altura de um conselho sabedor. Ou seja, assumir o papel para onde converge o agente de viagens: consultor de viagens.
Francisco Correia considera que o agente de viagens tradicional tem os dias contados. Entende que existe muita oferta alternativa, como a Internet.

... mas com equilíbrio

Não obstante o cuidado em satisfazer os desejos dos clientes, salienta ainda que o agente de viagens tem de ter sensibilidade para tomar diversas atitudes. Lembra, por exemplo, o caso de uma pessoa dos Açores que queria vir para a “suite” presidencial do Savoy na Madeira.
Dinheiro não era problema. Mas via que a pessoa, pela profissão e pela forma de estar na vida, não se enquadrava bem com aquele tipo de quarto. Cria dificuldades e mostra alternativas. Resultado, o cliente sai. Compra o quarto pretendido noutra agência e faz questão de o ir dizer a Francisco Monteiro.
Hoje, se estivesse perante a mesma situação, não hesitava: voltaria a fazer o mesmo. Entende que é preciso conhecer o cliente para criar uma oferta que o desperte, mas que também não seja demasiado.
Tem a grande preocupação de acompanhar, de longe, os clientes das viagens maiores. A sua grande dedicação ao trabalho faz estragos cedo. Com 39 anos conhece as agruras de dois enfartes. Mas não vai abaixo. Continua de pedra e cal.

Atento à informação

Tal como sempre fez, mantém-se atento a toda a informação na área do turismo e das viagens.
É incapaz de ir de viagem e não entrar nas lojas dos operadores para saber como fazem, tal como faz em hotéis e em restaurantes. É capaz de pedir os menus de um restaurante muito bom. Diz que é um defeito profissional. Um defeito que o mantém igualmente sempre atento ao que se passa em seu redor no trabalho, sempre com o intuito de poder ajudar um colega.
Trabalha um mínimo de 10/12 horas. Mesmo assim, menos do que noutros tempos.
No entanto, a .... deixou-nos. O amigo Chico partiu.

“Hobbies”

No domínio dos “hobbies”, não tem nenhum em especial. Gosta de praticar natação e gosta de cinema.
Em jovem chega a praticar hóquei em patins.
Mas o maior “hobby” é a dedicação à profissão.
É utilizador frequente das novas tecnologias, concretamente o computador, a Internet e o “e-mail”.
Durante o seu percurso profissional, nunca goza do período normal de férias. 
Faleceu a 8 de maio de 2017.

BI

Nome: Francisco Xavier Monteiro da Câmara Pereira
Data de Nascimento: 1943-11-5
Data do falecimento: 08-05-2917
Naturalidade: Vila do Porto, Santa Maria, Açores
Filhas: 2

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