Júlio Sousa


Casino abre a porta para o turismo com Júlio Sousa


Júlio Sousa diz ser um jogador de área, o que se traduz em estar sempre ao ataque, o que, como agente de viagens representa ter uma empresa dinâmica a antecipar e melhor preparar as tendências do mercado.


O nosso convidado de hoje chama-se Júlio de Sousa. E foi com a simpatia que se lhe reconhece que jantamos no Restaurante Mira Mar, no Pestana Miramar Hotel, no Funchal. O recanto era o “study”. Num ambiente sossegado e requintado falamos da sua carreira profissional, que aqui revelamos no âmbito dos “Percursos no Miramar”.

Chega à Madeira em 1975, vindo de Luanda, em Angola, onde nasceu em 1959.
Júlio Sousa começa a trabalhar em Dezembro de 1977 no que chama de «saudoso» Casino Park. Hoje, este hotel já mudou de nome e passou a chamar-se Pestana Carlton Park.
Entra para a hotelaria no final do primeiro período das aulas. Os últimos anos são completados nos anos seguintes, conciliando os estudos com o trabalho.
No antigo Casino Park tem um familiar nos quadros do hotel, concretamente na recepção. É ele que lhe apresenta o falecido Diogo Fernandes, que vinca bem ter sido o seu professor. É ele, que na altura, chefe de recepção (posteriormente chegou a ser sub-director do hotel), que o acolhe com agrado e ensina os segredos do turismo.
Dirigia o hotel Francisco Pereira da Silva de quem guarda gratas recordações.
O hoje empresário do ramo das agências de viagens recorda que aquela unidade de cinco estrelas, desenhada pelo arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer, foi uma verdadeira escola para si. A escola prática da vida.
Referindo-se a todo o seu percurso profissional, Júlio Sousa diz que aqueles primeiros tempos constituem a altura que nutre mais carinho. Razões para isso aponta duas: ter sido o primeiro emprego e uma grande escola de turismo.
Não obstante, o sector não constituía uma prioridade profissional dos seus tempos de adolescente. Mas, atendendo às condições que tinha pela frente, depois de vir da sua terra natal, não encontrava muitas alternativas. Nem ele e muito pouca gente, recorda. Estávamos ainda na alvorada de uma democracia instalada em Portugal ao quarto mês de 1974 e a sua consolidação tardava.

Muda para viagens

Na primeira fase da sua vida — no Casino — Júlio Sousa trabalha na recepção, onde fica até 1981.
Naquele ano da década de 80 surge uma oportunidade de mudar de ares. É convidado para ir para uma agência de viagens. Era o primeiro passo numa área que hoje abraça com empenho, dedicação e inovação.
O “bichinho” do turismo estava já enraizado e o novo desafio permitia diferenciar e alargar horizontes.
Deste modo, em 1981 sai da hotelaria e entra para o sector das agências de viagens em direcção à Visa, hoje denominada Intervisa.
A sua passagem pela agência de viagens incide principalmente no sector da importação. Ou seja, trabalha com os turistas que viajam para a Madeira, os grandes pilares do sector económico mais produtivo na ilha.
Ali fica até 1984. Nesse ano recebe um novo convite. É para dirigir o escritório da Top Tours no Funchal, uma agência que tinha aberto as portas em 1979.
A Top Tours é uma empresa mais vocacionada para o mercado de exportação (para o turismo emissor). Contudo, vão buscar Júlio Sousa para o mercado que se especializara: o receptivo, cuja área pretendiam desenvolver na Madeira.

Regresso à hotelaria

Nessa altura, a empresa tinha mercados fortes como os Estados Unidos da América e o Canadá, hoje sem expressão em Portugal, nem na Madeira.
E eis-nos em 1988. Surge uma nova mudança na sua vida profissional, que coincide sensivelmente com a entrada dos actuais proprietários: Horácio Roque e Joe Berardo. Entra para o hotel Savoy. Era o regresso à hotelaria.
Depois dos anos de aprendizagem e aperfeiçoamento no antigo Casino, nos serviços de recepção, vai direitinho para a área comercial. Diz que este interregno de cerca de dois anos, em que voltou a estar na hotelaria, constituiu um passo mais na aprendizagem que a escola da prática da vida profissional possibilita. «Foi uma altura em que estive na direcção comercial e onde aproveitei ao máximo os conhecimentos do turismo e, mais fundamentalmente, na área de operação hoteleira, que sentia necessidade.»
Ainda em 1989 recebe mais um convite, o que só acontece a quem tem algum valor acrescentado a dar ao convidante.

Criação de agência

Desta vez a proposta era ainda mais forte. É convidado para montar na Madeira uma empresa do ramo de agências de viagens, que em 1992 seria fundida com a Portimar, onde ainda se mantém.
No início dos anos 90 funda, então, a empresa Catur. Dedica-se exclusivamente ao turismo de receptivo dos mercados alemão, austríaco e suíço.
É nessa altura que arranca com o caminho que o traz até aos dias de hoje com a Portimar-Madeira. Um caminho que lhe permite chegar a 2002 praticamente com o controle do mercado alemão que viaja para a Madeira. «Isso tem sido o nosso objectivo desde há 10/12 anos e é, praticamente, o que temos feito.»
Hoje tem uma empresa perfeitamente compartimentada, com sectores de importação e exportação e financeiro. E, desde este ano conta com apoio na gestão da Portimar-Madeira, de Ricardo Fabrício, ficando mais liberto para as vendas e a operação.

Valor dos contactos

No domínio da formação contínua diz que o dia-a-dia teve e continua a apresentar um valor forte para a sua vida profissional na medida que «vamos aprendendo com os contactos e vivências que empreendemos.» Júlio Sousa exemplifica que aprende mais com a experiência das inúmeras pessoas que contacta, com as quais passa muito tempo, do que, eventualmente, com um curso de formação, que, concerteza, não seria tão produtivo e consequente.
Como complemento lê diariamente o Jornal da Madeira e as demais publicações diárias que se dão à estampa na ilha.
Praticamente não lê jornais nacionais, a não ser “A Bola”, que considera um bom veículo de informação e bilhardice do nosso desporto. Diz ser a forma privilegiada para saber do seu Benfica. Sobre o seu clube de sempre tem uma saída curisosa: «Podemos mudar de empresa várias vezes, mas de clube nunca.»
Deixando para trás este aparte desportivo, voltemos às leituras.
Em complemento aos jornais regionais também lê revistas e publicações ligadas ao turismo em português, alemão e inglês.
Não obstante, deixa claro que, com as novas tecnologias e informação rápida, cada vez menos lê os jornais de turismo em suporte de papel. Tudo porque a internet tem a informação de que necessita e, mais que isso oferece-a em cima da hora, de forma mais diversificada.
Neste domínio diz que vai sempre evoluindo consoante a técnica. «É sempre para a frente.» Não se considera um fanático mas um utilizador que sabe e quer tirar partido do que a técnica oferece.
É assim que, diariamente, abre o seu correio electrónico de manhã. Lê e dá rapidamente as respostas que tem de dar. Não é do tipo de ficar tempos com as mensagens sem as ler e, muito menos, deixá-las penduradas numa pasta à espera de conseguir tempo para responder.

Saber antecipar

Júlio Sousa disponibiliza muito do seu tempo de trabalho na recolha de informação e nos contactos com as pessoas que o rodeiam.
Sem se cingir ao trabalho de secretária, ocupa o seu dia de trabalho entre as nove horas da manhã e as oito/nove da noite. Sublinha, no entanto, que não se deve contabilizar o tempo de trabalho diário devido à subjectividade que uma resposta pode induzir. Ou seja, além do trabalho de secretária, a profissão de agente de viagens é, concerteza, mais abrangente. Os encontros, as viagens e a análise permanente do sector em particular e da evolução económica e social em especial, fazem com que o dia esteja preenchido desde que acorda até se deitar. Diz que até quando pratica um dos seus “hobbys”: jogar futebol duas vezes por semana com os amigos, também pensa, algumas vezes na melhor forma de concretizar os negócios. Não propriamente durante o jogo, mas nos momentos que antecedem e depois da partida. Afinal de contas, as próprias pessoas que o acompanham nas andanças da bola são do sector.
Tal como na profissão, Júlio Sousa diz ser um jogador de área, o que se traduz em estar sempre ao ataque, o que, como agente de viagens representa ter uma empresa dinâmica a antecipar e melhor preparar as tendências do mercado. 

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